que Pena...


Até aos seis anos queria ser Princesa. A Bela Adormecida, a Gata Borralheira e a Branca de Neve eram as minhas imagens de referência: vestidos até aos pés, cabelos longos (a Branca de Neve não era a melhor neste aspecto), beleza indiscutível, a vida num palácio e um Príncipe Encantado que me faria feliz para sempre. Elas eram o máximo! Perfeitas!

Aos seis anos fiz uma visita que mudou a minha vida. O meu pai levou-me a ver o palácio da Pena. Que excitação! Ia ver um palácio a sério que, segundo a história, tinha sido habitado por reis, rainhas, príncipes e princesas… Os quartos com camas de dossel, os salões onde se faziam os bailes com os tais vestidos até aos pés e as princesas dançavam com os príncipes, eram as promessas de uma visita mágica que me esperava no topo da Serra de Sintra. E lá fomos.

A princípio a visita correu bem. Estava encantada e o meu pai satisfeito com o meu encanto. A certa altura, num quarto do palácio, o guia da visita abre uma cortina de veludo vermelho-sangue e pesada atrás da qual se escondia uma poltrona de madeira, com costas e apoios para os, braços forrados do mesmo veludo… Aquela poltrona tinha no entanto uma particularidade inesperada: no assento uma estrutura de louça branca com um buraco: era uma sanita! Foi o meu desencanto! Na minha imaginação as Princesas e toda a nobreza, não precisavam de sanita. Era algo em que nunca tinha pensado especificamente, mas quando vi a sanita, fui confrontada com um sentimento de contradição profundo: um ser perfeito não precisava de sanita!

Desisti de querer ser Princesa! Nunca mais ansiei vestir vestidos compridos, usar sapatos de cristal, ter cabelos longos e loiros…

(Obrigada pai, pela visita ao Palácio da Pena!)

2 comentários:

jp disse...

Foi de facto uma Pena!
Muito que eu gostaria de te ver de longo vestido, sapatos de cristal, cabelos longos e loiros e......que assumisses que afinal sempre tinhas encontrado o tal Príncipe Encantado, ainda que (esperemos que regularmente), ambos façam uso do referido artefacto.

xf disse...

O Príncipe Encantado encontrei! Não ousámos foi pôr veludo na nossa "poltrona"! :)