se os filhos escolhessem os pais...
A Inês (7anos) gosta de atazanar o juízo ao irmão mais velho, como todos os irmãos mais novos gostam de fazer. Um dia destes, dedicada a esta tarefa, os pais ouviam lá dentro do quarto os protestos, e quem levou a melhor desta vez, foi o irmão. Ela queixou-se, mas os pais, em tom de lição, decidiram ignorar. Indignada com a indiferença parental, no seu ar mais solene e dramático, veio ter com eles e declarou “O que eu queria mesmo, era uns pais que me apoiassem”.
idade de mãe
Mãe, eu disse ao Vasco que tu tens 11 anos e ele disse que se tu tivesses 11 anos ainda eras filha.
Pedro, 4 anos; Vasco, 5 anos
Pedro, 4 anos; Vasco, 5 anos
despacho balístico
Os meus vidros não deixam que os tiros entrem porque são à aprovação de bala.
Pedro, 4 anos
Pedro, 4 anos
ainda
Aí por volta da hora de jantar perguntou-me:
Mãe, eu hoje ainda não me portei mal, pois não?
O mais giro é que não tinha nada para me pedir. Era mesmo só para saber...
Mãe, eu hoje ainda não me portei mal, pois não?
O mais giro é que não tinha nada para me pedir. Era mesmo só para saber...
vaidade
Parámos num cruzamento e via-se o reflexo do carro no vidro de uma montra, para o qual ele me chamou a atenção. Disse-lhe que o nosso carro era vaidoso e por isso é que se estava a ver ao espelho. Respondeu-me: Não é nada! Vaidosos são os que usam brincos!
Pedro, 4 anos
Pedro, 4 anos
dói-dói
A Mariana (5 anos) foi ao médico porque estava doente. O doutor perguntou-lhe o que sentia e ela disse: Dói-me tudo! Dói-me aqui e aqui... até me doem os pulsos dos pés!
sereia
Estávamos na conversa e eu disse qualquer coisa sobre sereias. Não tendo a certeza se ele sabia exactamente o que era uma sereia, perguntei-lho. Disse-me que sabia, mas que não me dizia e perguntou “Porquê? Tu não sabes?”. Com o intuito de tentar perceber o que ele entende por sereia, respondi: “Diz-me lá o que é, que eu agora não me lembro bem…”, ao que ele ripostou “Olha, amanhã perguntas ao teu chefe”.
Ainda tentei explicar-lhe a diferença entre um chefe e um professor, mas achei que ainda é cedo demais na vida dele para isso…
Ainda tentei explicar-lhe a diferença entre um chefe e um professor, mas achei que ainda é cedo demais na vida dele para isso…
quant(d)o
Numa brincadeira enternecedora disse-lhe “gosto de ti” e perguntei-lhe “e tu, gostas de mim?”. Respondeu-me prontamente que sim e em tom de brincadeira perguntei-lhe “Quanto?”. Ainda mais enternecedoramente parou para pensar e passados alguns segundos respondeu-me “Sempre”.
Venusianos
Eu: Vês aquela luz ali no céu?
Ele: Sim.
Eu: Não é uma estrela. É um planeta e chama-se Vénus. É mais pequeno que a Terra, que é o nosso planeta. E está mais perto do Sol.
Ele: E moram lá pessoas?
Ele: Sim.
Eu: Não é uma estrela. É um planeta e chama-se Vénus. É mais pequeno que a Terra, que é o nosso planeta. E está mais perto do Sol.
Ele: E moram lá pessoas?
reencarnação
A minha avó materna, com quem passei grande parte da minha primeira infância, morreu quando eu tinha 6 anos. Foi o meu primeiro contacto com a Morte e a maneira que encontrei de lidar com ela, foi a de pensar que a minha avó jamais seria capaz de me deixar e por isso reencarnaria no que estava à minha volta. Imaginava-a em coisas que via, desde animais a objectos. Um dos locais onde a “via” sempre, era no chão da cozinha da minha outra avó. Assim durante muito tempo, quando ia a casa da minha avó paterna, fizesse frio ou calor, a minha avó me ralhasse ou não, andava sempre descalça na cozinha e pisava o chão com muito cuidado. Ainda hoje guardo na memória o padrão exacto dos mosaicos tricolores.
bué
Quando saímos de casa de manhã nesta altura do ano, o termómetro do carro marca temperaturas entre os -1º e os 3º C. Assim, ele calça as luvas e tapa as pernas com o casaco ou com a manta, até o carro começar a aquecer, o quem ainda demora uns 2 ou 3 km. Um destes dias, já tínhamos percorrido uns 20 km e ele continuava de luvas postas e com as mãos debaixo do casaco, e disse-me: “Já estou a transpirar das mãos.” Perguntei-lhe porque não descalçava as luvas e ele respondeu-me: “É para ficarem bué da quentinhas por muito tempo”.
(Ainda só tem 4 anos e já diz “bué da”… o que me espera daqui a 10 anos…?!)
(Ainda só tem 4 anos e já diz “bué da”… o que me espera daqui a 10 anos…?!)
ano novo, novo verbo
A brincar aos soldados, ele é sempre o chefe e é preciso fazer continência com regularidade. Quando fica esquecida, ele lembra: Já podes continar!
Pedro, 4 anos
Pedro, 4 anos
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